O Projeto artístico pedagógico, poético, estético e político CORPO MOCAMBO propõe o pensar filosófico e o compartilhamento de práticas artísticas que tem como fundamento central a formação teórico-prático e a experimentação das danças brasileiras sob a perspectiva das danças de motrizes negras, as trocas e giras de conversas, o encontro em coletividades e o pulsar do corpo em movimento festivo. Originalmente os mocambos foram comunidades de exílio estabelecidas por escravizados brasileiros fugitivos entre os séculos XVIII e XIX. O objetivo desses assentamentos era a proteção, a luta, o fortalecimento coletivo e ação política a favor do viver com autonomia. Nesta perspectiva, o conceito CORPO MOCAMBO propõe poeticamente agregar outros sentidos, significados e processos artístico pedagógicos baseados em referencias das culturas brasileiras, conectadas com a natureza e processos integrativos de forma pluriversal.
De acordo com o intelectual brasileiro Renato Noguera (2012), a educação pluriversal define-se como a não priorização de um ponto de vista, portanto, comprometida com uma construção que não se define como universal, mas plural. Trata-se de um percurso de partilha e construção de conhecimentos que caminha na direção oposta ao epistemicídio, no qual se apaga e se captura os saberes dos povos negros africanes, sejam eles do continente ou da diáspora, e dos povos originários. Mirando para o sul do planeta, essa considera como válidas as demais percepções de mundo criadas. Corpo Mocambo propõe como estrutura circular ações pluriversais por meio de cursos formativos de longa duração, oficinas média duração e workshops de curta duração, giras de conversas com mestras e mestres dos saberes tradicionais, pensadores e pesquisadores em dança, laboratórios de experimentações, Cine CRD, escambos de idéias, eventos festivos esporádicos e um festival anual visando promover o intercâmbio, trocas e mostra dos processos desenvolvidos no período. “Confluência é a lei que rege a relação de convivência entre elementos da natureza e nos ensina que nem tudo que se ajunta se mistura, ou seja, nada é igual. Por assim ser, a confluência rege também os processos de mobilização provenientes do pensamento plurista dos povos politeístas.” (SANTOS, Antonio Bispo. Colonização, quilombos: modos e significações. Ed. AYÔ, 2019, p. 68)
A partir do conceito de confluências, este projeto defende a integração de diferentes saberes que se comunicam e se fortalecem em diversas linguagens e expressões de dança. Assim como, busca descentralizar e difundir diversos e diferentes pensamentos e práticas de artistas educadores da dança, protagonizando todos os macros territórios da cidade. Outra característica democrática é o olhar e atuação colaborativa junto ao Conselho Público Participativo do CRD, visando promover uma gestão compartilhada que considere os interesses, desejos e participação de toda comunidade e a pluralidade das danças da cidade. Assim, firmamos e reafirmamos a frase de Marimba Ani “Nossa cultura é nosso sistema imunológico”. Conhecer nossas artes do corpo, nossa cultura, nossas raízes antes da invasão, e reconhecer a riqueza e a grandiosidade do nosso povo é caminho de cura, é preciso que cada artista, educadore, gestore, atue na busca da liberdade e no quebrante das corpas e corpos e os sopros da vida em ancestralidade.
Dansarau Projeto Corpo Mocambo (2023)